segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Segunda-feira da XXI Semana TC Ano A


EVANGELHO Mt 23, 13-22

«Ai de vós, guias cegos!»

Hoje meu Deus,
Me assaltas com teus ensinamentos,
Nos dais indicações, orientações,
De como educar,
De como orientar,
Não dando espaço,
Para que fariseus,
Escribas e hipócritas,
Corrompam o coração dos nossos filhos,
Ai de nós, guias cegos pela liberdade,
Que abandonamos os jovens,
Há imaturidade, a ouvir,
Doutrinas corrompidas,
Duma salvação deturpada!
Ai de nós guias cegos,
Se não te escutarmos!
Palavra da salvação.




OS HIPPIES DA SHARIA

Ela tem 22 anos, adoptou o nome de Khadijah Dare e é de Lewisham, Londres. Ele acolheu o nome de Abu Bakr e é sueco. São casados, ambos combatem pelo ISIS e vivem com o filho pequeno em Raqqa, a capital do Califado.
O sonho dela é ser a primeira mulher a decapitar um "terrorista" dos EUA ou Reino Unido (como o James Foley, segundo afirma no Twitter).
Convertida durante a adolescência, vive aquilo que chamamos de radicalismo islâmico, que não é, nem mais nem menos, que viver em rigor sob os ditames da Sharia, a Lei Islâmica, mantendo aceso o fogo sagrado da Jihad de a impor a cada ser humano do planeta. E apenas isso.

Para muitos um bicho-de-sete-cabeças, que evoca açoites e chicotadas, apedrejamentos, amputações e execuções, a Sharia, baseada em tradições muito anteriores ao Islão, é, na verdade, uma resposta pragmática, simples e eficaz, a muitos males que assolam a sociedade ocidental.
Por exemplo, um marido traído numa comunidade ocidental machista, pode eventualmente carregar esse estigma durante anos, ser apontado a dedo ou referido em sussurro, com toda a dificuldade que acarreta a construção dum futuro com tal fardo. Com a Sharia, nada disso acontece: toda a comunidade participa na punição da "traidora", duma forma tão violenta e traumática para todos que ninguém mais refere o facto, abrindo assim caminho para o construção do futuro do ofendido. Uma pedra sobre o assunto, literalmente.
Uma sociedade regida pela Sharia não tem assaltos ou crime violento. As punições são tão severas que ninguém se atreve a roubar seja o que for, em que circunstâncias for.
Numa sociedade regida pela Sharia, ninguém perde o emprego, destrói um casamento, vai preso por cometer um crime de agressão, mata na estrada, ou faz figuras tristes, quer na rua, quer na internet, por beber demais. O álcool é proibido. Ponto final.
Não se vêm drogados. A droga é completamente proibida e as punições físicas são atrozes, como as do álcool.

Estes são alguns exemplos duma filosofia simples... Algo como cortar a cabeça para lhe passar a dor.

É claro que existem punições horríveis para actos que fazem parte da nossa normalidade, como uma mulher andar sozinha (sem um familiar), ou mostrar as pernas, ou o cabelo, ou fazer propaganda a Jeová porta-a-porta, ou tomar um refresco com um amigo numa esplanada, ou conversarem num carro a fumar um cigarro. As violações com base na lógica do "estavas a pedi-las, ao não te comportares segundo os preceitos islâmicos" são punidas de forma leve. A pena da violada costuma ser pior que a dos violadores.

Mas, para os adeptos, estas coisas fazem parte. Para eles é muito pior estarem no meio do trânsito e levarem um tiro e ficarem sem o carro ou saírem dum banco e levarem três. Ou a prostituição, ou isto, ou aquilo... É o que alegam.

É impressionante a quantidade de jovens ocidentais que se têm juntado à Jihad do ISIS. Semanalmente aparecem relatos de jovens que fogem da casa dos pais para isso. E inúmeras raparigas, como a londrina acima mencionada. Muitas espanholas e inglesas. E rapazes, de todas as nacionalidades. Ainda hoje soube de um belga com apenas 13 anos... Treze anos, no norte do Iraque, de Kalashnikov em punho, para matar infiéis. Os portugueses sabem que andam por lá onze dos seus. Um deles martirizou-se no outro dia ao carregar contra uma esquadra de polícia ao volante de um monovolume carregado de explosivos.
Austrália, EUA, Suécia... adolescentes e jovens que chegam, de todo o mundo, aos milhares para abraçar esta Jihad.
Porquê?

Não deve existir altura na vida de alguém em que a vontade de mudar o mundo seja maior que na adolescência. É a altura de colocarmos tudo em causa: a vida dos nossos pais, na qual identificamos um futuro que para nós não queremos. O mundo que a geração deles faz gestão, um mundo que não gostamos. A forma como eles o vêem, que contestamos.
Queremos mudar tudo, e precisamos de pistas, linhas-mestras. Numa altura em que não temos grande conhecimento técnico dos mecanismos da vida, começamos a acreditar que existam fórmulas mágicas para mudar o mundo.
Foi assim à volta de Woodstock. Foi assim com a geração do Flower Power.Todos os outros, excepto os nossos pais, tinham razão. Se os nossos pais eram de direita e conservadores, nós éramos de esquerda e comunistas. Se eram cristãos, nós éramos budistas, ou hinduístas, ou seguíamos um Guru Marahiji qualquer e fazíamos viagens à Índia, ou ao Nepal.
Sempre em busca dum novo rumo para aquilo que sabíamos estar mal.

Hoje, na segunda década do Século XXI, o fenómeno repete-se.
Só que hoje, todas as fórmulas antes tentadas, falharam. Nada resultou. Comunismo, Capitalismo, Gurus, Dalai Lama. Nada disso resolveu os males do Mundo. Os pais são exemplo disso: escravos das dívidas, alcoólicos, desrespeitados pelas mulheres, desrespeitadas pelos homens, todos a traírem todos. Deixaram de acreditar naqueles deuses coloridos e agora não acreditam em nenhum, nem na vida depois da morte, nem no futuro do planeta, nem no dos filhos, que nele andam à deriva...

É para muitos destes adolescentes e jovens, que o Islão se revela uma resposta.

Mas não o Islão espiritual. Esse, o da oração e contemplação, é muito semelhante a outras fórmulas tentadas. A resposta, eles buscam-na e encontram-na na magia do Islão Guerreiro, primordial, o do Profeta que, à semelhança do ISIS, andava de cidade em cidade a matar infiéis e a converter, a cargas de cavalaria ligeira – hoje motorizada– com a bandeira de Allah a esvoaçar no azul quente do céu do deserto.
É na Sharia, esta fórmula simples e decisiva de resolver os males do mundo, que eles se revêm.
Antes, viajavam para a Índia e o Nepal em busca de pistas para o seu futuro.
Hoje, viajam para a Síria para o construírem.
E ele nasce, violento, à sua frente.



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